No Dia Internacional da Mulher, convidámos a nossa COO, Joana Maia, para refletir sobre questões relevantes que permeiam a luta pela igualdade de género e o empoderamento feminino. Numa conversa inspiradora, ela partilhou insights sobre os desafios que ainda enfrentamos, as conquistas já alcançadas e o papel de cada um de nós na construção de um futuro mais inclusivo e justo.
Como é que a Talento tem promovido a igualdade de género no ambiente de trabalho?
Na Talento Formação, acreditamos que a igualdade de género acontece de forma natural quando se valoriza genuinamente o talento e o mérito de cada indivíduo. O talento não tem género, tem capacidade, dedicação e visão. Desde a fundação da empresa, cultivamos uma cultura organizacional inclusiva, na qual as oportunidades de crescimento profissional são baseadas no desempenho, nas competências sociais/emocionais e no potencial de cada um, nunca no género.
Acreditamos que não devemos escolher mulheres para preencher quotas. Devemos escolher talento porque acreditamos no seu valor.
A igualdade de género não é apenas uma questão de justiça – é também um fator essencial para o crescimento das empresas. Equipas diversas tomam melhores decisões, refletem melhor a sociedade e são mais inovadoras. Estudos mostram que organizações com maior diversidade de género têm até 25% mais probabilidade de superar a concorrência em rentabilidade (McKinsey, 2023). Quando garantimos equidade salarial, progressão de carreira transparente e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, criamos um ambiente onde todos podem atingir o seu verdadeiro potencial. E quando isso acontece, as empresas prosperam, as pessoas crescem e a sociedade evolui.
Ainda assim, a verdadeira mudança só acontece quando reconhecemos que todos temos vieses inconscientes. Independentemente das nossas intenções e políticas, é essencial mantermos uma postura de autoanálise e responsabilização contínua. A igualdade não é um destino – é um compromisso diário.
Que desafios as mulheres enfrentam hoje no mercado de trabalho e como podemos superá-los?
Apesar dos enormes avanços nas últimas décadas, as mulheres ainda enfrentam obstáculos significativos no mercado de trabalho. No passado, muitas barreiras eram explícitas – há poucas gerações, as mulheres tiveram de lutar pelo direito ao voto e pela possibilidade de trabalhar sem restrições legais. Hoje, os obstáculos são mais subtis, mas continuam a existir. Um exemplo evidente é a disparidade salarial: em Portugal, as mulheres ganham em média menos 13% do que os homens (Eurostat, 2023). Além disso, continuam sub-representadas em posições de topo. Globalmente, apenas cerca de um terço dos cargos de gestão são ocupados por mulheres, e somente 6% dos CEOs a nível mundial são do sexo feminino (Catalyst, 2023).
Os desafios, no entanto, não se limitam a números. Muitas mulheres veem as suas competências avaliadas de forma diferente: características como assertividade e liderança, frequentemente elogiadas nos homens, são muitas vezes interpretadas como agressividade ou rigidez nas mulheres. Esse viés invisível torna o caminho para o topo mais exigente.
Outro fator crítico é a carga desproporcional da vida familiar sobre as mulheres. A maternidade ainda impacta a progressão de carreira de muitas, seja pela falta de políticas empresariais que promovam a conciliação entre vida profissional e pessoal, seja pela expectativa social de que as responsabilidades domésticas e parentais devam recair principalmente sobre elas.
Para mudar este cenário, é essencial que o compromisso seja coletivo. A igualdade de género não deve ser vista como uma “luta de mulheres”, mas como uma responsabilidade partilhada. As empresas devem implementar processos de recrutamento justos, baseados em competências e não em estereótipos. Igualdade salarial, progressão de carreira equitativa e um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo são passos fundamentais para corrigir um desequilíbrio que nunca devia ter existido.
Mas a responsabilidade não pode recair apenas sobre as empresas. O Estado tem um papel fundamental na implementação de políticas públicas que incentivem a conciliação entre vida profissional e familiar. É essencial criar medidas eficazes que garantam que a maternidade não se traduz em desvantagens na carreira, assim como promover incentivos às empresas que adotam práticas equitativas. Políticas como licenças parentais mais equilibradas entre homens e mulheres, benefícios fiscais para empresas que investem na igualdade e programas de apoio ao regresso ao trabalho após a parentalidade são fundamentais para impulsionar uma mudança estrutural.
O futuro será verdadeiramente igualitário quando deixarmos de ter de justificar porque é que uma mulher deve ocupar um determinado espaço – e simplesmente reconhecermos que ela tem direito a estar onde quiser estar.
Qual a sua visão sobre o papel das mulheres na liderança e na gestão de empresas como a Talento?
As mulheres já demonstraram, repetidamente, a sua competência, capacidade de liderança e visão estratégica. O papel delas na liderança não deve ser visto como uma questão de inclusão, mas sim como um reflexo natural do talento e do mérito. O verdadeiro progresso acontece quando deixamos de encarar a liderança feminina como uma exceção ou um tema de debate e passamos a reconhecê-la simplesmente como liderança – sem qualificações de género.
Na Talento, acreditamos que o foco deve estar na remoção de barreiras sistémicas e na criação de ambientes onde o talento, independentemente do género, possa florescer. Não se trata de “inserir” mulheres na liderança, mas sim de garantir que nada as impede de chegar lá. Isso significa políticas de progressão de carreira transparentes, ambientes de trabalho inclusivos e um compromisso real com a equidade de oportunidades.
Empresas com maior diversidade de género em cargos de decisão são mais inovadoras, tomam melhores decisões e têm um desempenho financeiro superior. Mas, mais do que um argumento de negócios, a liderança feminina é uma questão de justiça e reconhecimento. Se uma mulher tem competência para liderar, a única pergunta que devemos fazer é: o que mais podemos fazer para garantir que nada a impede?
Liderança não tem género. Tem mérito, visão e impacto. E são esses os critérios que devem definir o futuro das empresas e da sociedade.
Que conselhos daria às mulheres que estão a pensar em investir numa formação profissional?
O meu principal conselho é simples: apostem em vocês mesmas, sem hesitação. Conhecimento é poder, e cada nova competência adquirida é um passo em direção à independência, à autonomia e à realização pessoal e profissional. Nunca duvidem do vosso potencial, porque ele é ilimitado.
Vivemos num mundo em rápida transformação, onde novas áreas emergem constantemente e as oportunidades pertencem a quem está preparado para as agarrar. Se querem mudar de carreira, crescer ou conquistar novos desafios, a formação será sempre uma das vossas melhores aliadas. Aprender não é um luxo, é uma necessidade.
Se um setor é tradicionalmente dominado por homens, vejam isso como um desafio, não como uma barreira. Sejam pioneiras, abram caminho para outras mulheres, inspirem e deixem-se inspirar.
Além disso, procurem redes de apoio. O caminho torna-se mais fácil quando partilhamos experiências, aprendemos com outras mulheres e criamos espaços de colaboração. Rodeiem-se de pessoas que vos incentivem e nunca deixem de questionar e aprender.
Como destaca a UN Women, organização das Nações Unidas dedicada à promoção da igualdade de género, ampliar a educação e a qualificação das mulheres não só as empodera, como impulsiona um crescimento económico mais inclusivo. Quando uma mulher cresce, a sociedade cresce com ela.
E lembrem-se: o vosso lugar não é onde vos permitem estar – é onde vocês quiserem estar.